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Quando eu era mais jovem e criava meu filho, ao meu jeito, o jeito que eu sabia e podia, todo mundo tinha uma crítica: Lucy é muito rigorosa ou Lucy é muito permissiva com esse menino. Esse menino se criado assim vai ser um capeta, um marginal, vai bater na mãe...Quando eu estudava e passava meus apertos, sem trabalho, sem casa, sem dinheiro, ouvi dizer: pra quê tanta luta para estudar,isso não é faculdade, é dificuldade. Você já tem um coração rasgado e remendado duas vezes, pra quê estudar? Você abandona seu filho por causa de trabalho e estudo. Bem, um dia resolvi parar de ouvir e tomei uma atitude: ir pra longe e viver como sempre vivi - sozinha com meus problemas pessoais, econômicos e existenciais. Nem assim, deixei de primar pela família, até que um dia,parei de visitar, parei de procurar. Mas isso não quer dizer que não os goste ou que os renegue, ao contrário, dou a eles a liberdade de serem o que são, longe de mim que sou uma chata, embora eu me ache muito legal, sou chata só comigo e com o filho. Penso que, por viver longe deles, eu tenha uma visão externa dos problemas internos pelos quais passam cada um. Tento ser diplomática, mas acabo sendo mal interpretada com minha diplomacia de rinoceronte. Comigo é tratamento de choque pois foi assim que sempre resolvi meus problemas, dizendo a mim mesma que o problema é meu, existe e tenho que resolvê-lo sozinha, pois a resposta já está em mim. Normalmente é assim: já sabemos a resposta e buscamos a ratificação nos outros e se esse outro(na maioria das vezes sou eu que faço o papel) pensa diferente, é rechaçado, eliminado, mal visto. Bem mas comigo sempre resolve um tratamento de choque. Embate, eu eu o problema tipo assim: vem pra mamãe problema que eu te traço em dois atos. Tenho meu próprio código de ética e valores, familiares, morais, espirituais. Embora tenha tentado desde sempre agir corretamente dentro desse código de ética, errei pra caramba, e, muitas vezes precisei violar alguns princípios com o intuito de sobreviver, de satisfazer necessidades prementes, tais como, morar, viver, comer, estudar, criar o filho e sempre tive o cuidado de não confundir meu princípios com orgulho. Às vezes não queria fazer determinada coisa e fazia na certeza de que estava violando um princípio básico, tempos depois chegava a conclusão de que era somente o orgulho que doía. Mas porque a minha família me evita, será porque não sou falsa e digo o que tenho a dizer se me pedem opinião. A única pessoa da família com acho, e tenho certeza, que tenho o direito de me meter e aconselhar sobre sua vida é Ana Maria. Por quê? Ora porque a criei e eduquei na primeira infância. Porque sempre fui sua mãe e ela é burra pra caralho, só faz merda, só escolhe merda e comete as mesmas merdas várias vezes e o pior de tudo, não aceita críticas mesmo sabendo que é somente para o seu bem. Onde já se viu uma mãe querer algo que não seja para o bem do filho? Raniere já aprendeu e não bate de frente, faz o que quer mas escuta a mãe antes. E se dá merda, escuta, esbraveja, esperneia, mas escuta a valha canção:" Eu falei que isso ia dar merda e deu." Ele escuta porque sabe que depois eu vou tentar limpar aquela merda toda. Mas pensando bem, não tenho nada a ver com suas escolhas, tenho que aceitar, mas isso é difícil quando se vê um filho fazendo merda, é como não se importar se vai se dar mal ou não.
Meu maior desejo é poder ajudar a família e o faço na medida das minhas possibilidades. Entretanto, ainda assim, sou mal interpretada, porque quero ser melhor, porque quero aparecer. Ora eu não quero ser melhor do que ninguém, quero ser melhor que eu mesma, quero fazer a minha parte, por mim, e não pelos outros, não pelo que vão pensar. Na maioria das vezes sinto-me como uma cria rejeitada. Sei que se preocupam comigo, com minha saúde, mas ninguém me participa nada, eu não sei de nada. Na verdade, eu não quero mesmo saber porque se souber vou soltar as minhas pérolas e acho que é disso que não gostam.Sinto que gostam de mim, mas não como parte integrante, mas como um agregado distante. Talvez a estrutura da família é que esteja errada, os laços não foram bem apertados, os vínculos não sejam tão sólidos. Talvez a concepção de amor fraterno e familiar é que estejam concebidos de forma errada. Amar é cuidar. Caridade se começa em casa. É isso o que penso, é isso o que procuro fazer. Mas basta se precisar de alguma coisa, que pronto! Ninguém pode nada. Ora ajudar podendo é fácil, ajudar quando sobra é fácil. Não nego que vejo em Sueli um traço forte de ajuda mesmo quando não pode. Ela , nesse ponto é foda, sempre foi e é melhor que eu nesse aspecto. Tira do seu pra dar para a mainha, ou para um irmão. Mas é completamente pirada, beirando a insanidade, de um radicalismo incompreensível para uma pessoa tão inteligente, quase genial. Penso que falta nela a flexibilidade que é característica da sanidade psíquica. Mas existe uma grande diferença entre o meu pensar e a ralidade. Minha leitura do ser Sueli, pode estar errada e acredito que ela tem certeza que estou errada. Pois bem assim são os seres humanos: diferentes em constituição e psique. A Itinha, acostuma-se às adversidades, é uma pessoa sempre precavida e perde oportunidades de ser generosa - não falo em dinheiro, falo em apoio moral, sentimentos mesmo, amor- porque está sempre na defensiva. Defendendo-se dos tempos ruins. É uma pessimista nata. Só uma pessoa a ama incondicionalmente e defende-a de tudo e todos. Essa pessoa não é sua filha, é o meu filho. Talvez porque ela dê a ele a segurança e confiança que eu não tenho. Faça, não faça, siga, pare. Enquanto comigo é, você sabe o que é melhor pra sua vida, eu acho que vai ser assim ou assado, mas você escolhe. Se der merda estarei aqui para a velha canção e para a ajuda certa. Escolha você porque a vida é sua. Com a Itinha não é assim. è simplesmente, não faça essa merda que vai dar errado. Não faça isso senão eu te pego.