sábado, 3 de setembro de 2011


Vovó Biluca,


Fêmea Alfa – Cabeça de Manada, Nutriz, Guia e Provedora a conduzir seu clã de mulheres e crianças pelas savanas ressecadas, buscando água e alimento para sua tribo.
Na família dos elefantes, a manada é liderada pela fêmea mais velha, que é capaz de reconhecer cada um dos membros do grupo e que é responsável por tomar as decisões necessárias em momentos difíceis. No caso de a região onde habitam sofrer com a falta d’água, é ela quem determina que caminho seguir. E foi sempre assim vovó. Jamais nos faltou alimento, água, abrigo e um cafuné que só você sabia fazer, daqueles de estalar a unha. e nos fazer dormir no teu colo.


Quando eu era bem criança, ficava a pensar em o quanto era estranho, minha mãe ter uma mãe e ficava a te observar, e desde muito cedo reconhecia em ti uma pessoa generosa por natureza, sempre disposta a estender a mão em auxilio a quem precisasse. Uma costura, um prato de comida, uma bênção, uma reza. Contigo aprendi tantas coisas Vovó.
Você me levou ao médico quando eu quebrei a mão aos 9 anos, me levava ao otorrino nas minhas constantes crises de dor de ouvido e dor de garganta. Foi junto comigo, falar com mainha que eu quebrei a terceira lente de óculos no mês.

Você, uma mulher silenciosa, recatada,  como se vivesse recolhida em oração e eu mesmo adulta me perguntava, o que será que vovó pensa, tão calada que é? Não era de festas, não era de conversas, não era de vícios.



Somente em sua casa conheci o milagre da multiplicação dos pães, sempre acompanhado das palavras  - “Pouco com Deus é muito, muito sem Deus é nada.”

Lembro-me das vezes que, quando criaça, fiquei contigo, e talvez, por não terem sido tantas quanto eu quisera, a qualidade desse tempo era bem aproveitado em meu coração. Poucas vezes a ouvíamos cantar, mas se pedíamos você cantava com um lamento na voz. Com uma saudade, e sua voz me fazia transportar para lugares na minha imaginação. Lembro-me de você cantando  A Triste Partida, Homem Mau, Assum Preto.




Na adolescência, quando o mundo não me entendia, a tua casa era o lugar pra onde fugir, sua única pergunta era: - Sua mãe sabe que você está aqui? Não perguntava mais nada, mas sabia que eu não estava bem. E por lá eu ficava, às vezes, o dia inteiro, almoçava, lanchava à tarde, esticando assunto querendo pernoitar, mas você logo dizia, na hora de me despachar: - Menina vá simbora que sua mãe fica preocupada.
Eu pensava que mesmo que você permitisse, eu não poderia dormir no meio de tanta criança. As da Tia Regilma, as da tia Socorro, e nós, juntava todos na sua casa e era uma algazarra de criança. Sua casa tão pequena, cabia tanto menino (era assim que você denominava criança independentemente do sexo, tudo era menino, que pra você significava criança,  e criançada era simplesmente, um bando de menino).

Aos domingos, pegava meu radinho vermelho, pegava o trem em Queimados e me dirigia para Mesquita. Ficava por lá até à noitinha; fazia questão de comprar o pão do lanche da tarde. E você vovó, era a avó mais calada e mais bonita do mundo. Como eu admirava o teu silêncio.

Quando comecei a namorar, fui logo te apresentar o rapaz. E tua casa passou a ser o nosso destino aos domingos.
Com o tempo, a vida se encarrega de nos separar, você foi morar longe, eu tive que cavar meu pãp de cada dia. Já adulta, mãe de filho. Mas você sempre em meu coração.
Sempre a minha gratidão por ter criado a minha mãe.



Suas palavras de sabedoria, quantas vezes me vi repetindo ao longo da minha vida. Sabedoria de uma mulher simples dotada de um enorme coração de mãe. Seu amor era maior que tudo e a protegia.



A vida te deu poucos filhos de tuas entranhas, mas teu coração abraçou tantos quantos pode abraçar.



Teu exemplo de conduta, de mulher virtuosa, serviram de guia para minha própria vida.


Hoje, vovó, depois de mais de 15 anos, volto a te ver, no teu funeral, e você, linda, dormindo, com o mesmo rosto sereno de sempre. A mesma imagem de 15 anos passados.

Em minha memória, a lembrança da única vó que conheci, a única avó que amei e repeitei.

Que os espíritos elevados recebam esta recomendação, esta minha prece por você, que criou a minha mãe, que criou Itinha, Ilana, Sara, Sila, Bizuca, Zuzu.que criou os filhos, os netos, os bisnetos. Que criastes os teus e os mais que Deus te confiou. Você merece ser recebida com pompa e circunstância. Mas Deus que o Senhor Todo Onisciente, tudo sabe e tudo vê, se porventura encontrar em ti alguma falha, não serão falhas de avó, mas devem ser encaradas com tal pois falhas de avó devem ser perdoadas, se cometesses algum pecado daqueles “cabeludos’, Deus em sua misericórdia, também há de perdoar ao lembrar de tanta bondade em teu coração de tanto que você fez e nunca se deu conta que fazia.

Tio Régis, Tia Regilma, teus pais, teus irmãos e até vovô que já foi a tempos, estarão te esperando e, certamente, já prepararam um lugar de descanso para teu espírito que recém chegou dessa longa viagem.

Sigas com fé Vovó, tua missão foi cumprida, daqui, eu posso, da minha parte comprovar. Você foi Mulher, Mãe, Avó, Bisavó, Trisavó, Serva de Deus no mais alto grau pois, ser tudo isso, com posses e bens é mais fácil do que nas condições em que o fostes nessa estadia aqui na Terra; A vida não te poupou, Mas nem assim você blasfemou. Você se ajoelhou, orou, pediu a Deus e confiou reconhecendo que em tudo tem a mão de Deus.
Me perdoe se não fui te ver quando querias, me perdoe se não te ajudei quando podia. Mas saiba vovó que mais que tudo, eu te amei e amo.

Que os Anjos e Espíritos te recebam na mais profunda Paz.

Até nosso próximo encontro Vovó Biluca. Hei de te reconhecer.

A bênção Vovó.

Nenhum comentário:

Postar um comentário